[2/5] Os Quadrantes do Tempo - Intenção

Monica Baliu

7/5/20245 min read

QUADRANTE SUPERIOR ESQUERDO (SE) - Perspectiva Subjetiva Individual: INTENÇÃO

Dando continuidade ao artigo anterior, vamos olhar com mais profundidade para o Quadrante Superior Esquerdo (SE).

Ele fala do nosso mundo interno e está relacionado à experiência pessoal. Nos convida a pensar sobre como foram construídas nossas crenças, travas e paradigmas. E, nesse contexto, nos faz entender como tudo isso influencia a nossa gestão de tempo.

Embora o termo "gestão de tempo" seja comumente utilizado, não é a expressão mais precisa para descrever o uso eficaz do tempo. Isso ocorre porque o tempo em si é inexorável; ele não pode ser controlado, interrompido, armazenado ou estendido, muito menos “gerido”. A única forma de usar ao máximo o tempo disponível, é fazendo escolhas assertivas.

Muitas vezes, subestimamos o impacto das questões internas e pessoais em nossas escolhas e na formulação de estratégias. E isso frequentemente leva a decisões tomadas de forma passional e desordenada, resultando em um considerável desperdício de tempo.

Por exemplo, você se considera uma pessoa otimista ou pessimista?

Dependendo de sua resposta, seu tempo será utilizado de formas diferentes. Pense em como essa predisposição influencia ou influenciou alguns eventos em sua vida: seja no estabelecimento de prazos ou entregas de produtos, na previsão de recursos ou gastos, na expectativa de desempenho da equipe ou na gestão de pessoas.

Se for otimista, pode ter desconsiderado um possível problema, ou previu que sua equipe teria uma performance melhor do que na realidade teve.

Se for pessimista, talvez não tenha levado avante uma mudança necessária por não ter garantia de resultados e que “com certeza” poderia ter dado errado.

A forma como você entende que algo será fácil ou difícil de fazer, se vale a pena arriscar ou não, o grau de exigência sobre si e sobre os outros, determina a forma como você se empenha - ou não - a fazer as coisas, suas escolhas e o que você prioriza ou procrastina.

É importante ter consciência sobre as dinâmicas do Quadrante SE pois, isso possibilita a tomada de decisões conscientes e a adoção de comportamentos que impactam diretamente no uso do tempo.

Pergunte-se: Quanto invisto de tempo tentando fazer algo dar certo ou quão rápido desisto? Do que (ou de quem) eu gosto ou não gosto? O que prefiro? Ou considero desagradável, chato? O que me provoca a agir e o que evito ou protelo?

Essas indagações oferecem insights valiosos para uma gestão mais eficiente do tempo.

Quanto mais aprofundamos na observação no Quadrante SE, mais percebemos uma série de vieses inconscientes e no quanto nossos estados de espírito e humores nos levam a fazer coisas que depois lamentamos. Essa reflexão nos coloca em contato com uma vasta gama de escolhas que, por serem tão habituais e automáticas, passam despercebidas e raramente são questionadas. São verdadeiros pontos cegos que nos impedem de perceber sobre o que precisamos intervir ativamente.

Fala-se muito em protagonismo, mas como podemos verdadeiramente assumir o papel de protagonistas se não conseguimos identificar conscientemente as áreas que requerem mudança?

No quadrante SE residem diversos impulsionadores que frequentemente nos levam a agir sem uma análise pautada no possível e no real. Por exemplo, a necessidade de que tudo tem de sair perfeito, ou a pressão para a entrega rápida, o receio de demostrar fraqueza ao pedir ajuda ou o medo de provocar desconforto ou rejeição ao negar algo para alguém.

Tenho clientes que no começo do processo terapêutico são irredutíveis, não conseguem sequer ver outras formas de fazer suas entregas senão com perfeição. Com o tempo começam a perceber as consequências dessa crença: o excesso de atenção aos mínimos detalhes no início de um projeto ou tarefa acabam levando a uma execução lenta e um processo moroso que resulta em atrasos na entrega final. À medida que o prazo se aproxima, o sentimento de urgência e pânico toma conta, levando a desconsiderar fatores cruciais.

E esses são apenas alguns da infinidade de fatores internos que interferem no uso saudável do tempo.

Sugiro que você faça o seguinte exercício para encontrar alguns pontos cegos no SE. Ao compreendê-los, terá possibilidade de atuar sobre eles:

AUTO-OBSERVAÇÃO

1. CONSCIENTIZE-SE

a. Registre, anote, o que você pensa e sente sobre uma situação ou pessoa. Isso lhe ajudará a ter clareza sobre as próprias experiências.

b. Traga para o concreto, descreva os fatos de forma objetiva, limitando-se a relatar o que é visível.

c. Compare se o que sente se traduz no que acontece na realidade. Identifique distorções cognitivas.

d. Anote insights

2. ECO PERCEPTUAL

Reconheça as informações que o ambiente devolve sobre você e suas ações.

Cultive uma escuta aberta e ampla. Não tente justificar suas ações ou desconsiderá-las por ser “o seu jeito”. Valorize tanto as críticas quanto elogios, assim como observações sobre sua personalidade. As vezes desprezamos informações valiosas com muita rapidez. Ponderar a respeito do que falam sobre você ajuda a obter uma visão mais equilibrada de si.

Destaco que não falo para aceitar tudo que dizem sobre você e sim ponderar sobre isso. Veja o que é válido e descarte aquilo que não lhe pertence.

A partir dessa análise, busque padrões de comportamento, questione hábitos e a reveja crenças- aprenda sobre si.

IMPLEMENTE A MUDANÇA

1. LOCALIZE IMPULSIONADORES – Após observar-se, é provável que você tenha identificado algumas crenças e hábitos que influenciam negativamente sua gestão do tempo. Sugiro que liste essas crenças e hábitos e ao lado de cada um descreva como eles afetam o uso do seu tempo.

Traga exemplos concretos para ilustrar os resultados, vantagens e desvantagens associadas a essa crença.

2. REFLITA - A partir de tudo que você percebeu, pergunte-se: “E se não precisasse ser desse jeito?”, “E se fosse possível fazer diferente?”, ”Que pequena mudança posso fazer para diminuir a exigência dessa crença?”

3. TODO DIA UM POUCO, NENHUM DIA SEM UM POUCO.

Proponha-se a todo dia modificar 1% de um comportamento. Deixe bem claro para você o que está modificando. No final do dia, pense qual será o 1% de diferença que irá implementar no dia seguinte.

4. FOQUE NO SUFICIENTE. Separe o que é necessário fazer do como você gostaria que as coisas fossem feitas.

Use a frase “Se eu tivesse apenas o mínimo de tempo possível para resolver (pode ser 1 dia, uma noite, meia hora...), o que preciso garantir que aconteça?” — Foque nisso.

O objetivo do exercício acima é promover um maior protagonismo, tornando conscientes padrões de pensamento que muitas vezes passam despercebidos.

No entanto, o Quadrante SE é particularmente desafiador de ser observado pela própria pessoa, pois envolve identificar comportamentos profundamente enraizados em nossa existência. Portanto, caso necessário, não hesite em PEDIR AJUDA. Reconhecer seus limites ou fragilidades e buscar assistência para superá-los é uma atitude saudável que pode poupar tempo e promover um desenvolvimento mais eficaz. Aqui vale a célebre frase de Albert Einstein: "Nenhum problema pode ser resolvido com o mesmo nível de consciência que o criou".

Lembre-se que seu tempo é gerido pelos seus Valores...

O que é importante para Você?