Autocuidado e Organização Pessoal
DESENVOLVIMENTO PESSOAL
Monica Baliu
11/16/20164 min read
Estamos em um momento muito específico de nossas vidas, o planeta como um todo está passando pela mesma experiência. Tudo mudou. A forma de transitar pela vida não é mais a mesma, o corpo (provavelmente) está mais parado, o alimento mais disponível e até a dança diferente. Começamos a usar máscaras, evitamos sair e nos isolamos uns dos outros…
Mas isso não é inteiramente verdade. O que fizemos foi nos isolar fisicamente, porque não estamos isolados, muito pelo contrário. No caso de um encontro online que participei, por exemplo, cada uma de nós, quando falávamos na plataforma de videoconferência, estávamos nos dirigindo para 94 pessoas. Nunca antes tivemos tal oportunidade de socialização.
E algo inusitado surgiu a partir de tudo isso. De repente, talvez por essa “sensação” de isolamento, muita coisa começou a ser oferecida pelos mais diversos canais virtuais. Fomos invadidos por lives, vídeos e vários eventos gratuitos pelo Instagran, Facebook, Youtube. Cursos que você sempre quis fazer e nunca teve condições financeiras para tal, foram oferecidos por preços imperdíveis. Surgiram eventos dos mais diversos grupos e diferentes formatos. Até mesmo a questão da distância foi superada, tudo estava ao alcance de uma boa conexão.
Muitos de nós fomos acometidos por uma sensação de urgência, parecia que precisávamos participar de tudo senão perderíamos essa grande oportunidade! E a internet se tornou a nossa mais nova “amiga de infância”.
A partir dai o tempo e o espaço se misturaram, não conseguimos mais distinguir entre o que é pessoal e profissional; o lazer, prazer, divertimento e a obrigação; o que é meu espaço, o espaço do outro e o das relações.
A sensação é de que não saímos mais da frente do computador, um evento emenda no outro, o trabalho emenda em um curso, um encontro de amigos em uma reunião. Os sentimentos se misturam e os conhecimentos se perdem nessa cacofonia de encontros.
Ficamos com a impressão de que não temos tempo para fazer nada e a obrigação de fazer tudo. Muita gente está adoecendo… e não é de COVID!!!
O tempo é um valor interessante. Trabalho com gestão de tempo há muitos anos e uma coisa que eu posso afirmar é que ninguém gerencia tempo, o que se gerencia são escolhas. E a questão é: será que estamos escolhendo com consciência?
Reformularei minha pergunta:
— Você está escolhendo com consciência ou por inércia?
— Você está pensando no que está escolhendo?
Quando falo em escolhas no tempo, gosto de destacar dois aspectos.
O primeiro é lembrar que toda escolha implica em abrir mão de algo.
— Que parte da sua vida você está deixando de lado para poder fazer o que faz?
— O que você deixou de fazer para estar lendo esse texto agora?
Essa escolha precisa ser consciente, é preciso estar consciente daquilo que você abriu mão.
O segundo aspecto é que tudo, todas as coisas que a gente escolhe, tem o que chamo de “tempo certo”. E esse tempo certo é formado por um ciclo que contem:
— o tempo do planejar,
— o tempo de fazer
— e o tempo do curtir o que foi feito.
Fazendo uma analogia com a comida seria: o tempo do planejar o que vai fazer e cozinhar, o de comer, saboreando aquilo que fez e o tempo necessário para digestão. Você precisa permitir que seu organismo assimile e processe aquele alimento. E notem, essa terceira fase importantíssima do processo, apesar de natural, é geralmente inconsciente.
Ao meu ver, não estamos mais permitindo que os ciclos aconteçam.
Estou vendo pessoas que estão passando de um curso para o outro sem dar tempo para o conhecimento assentar. Fazem mandalas, filtros de sonho, constelação, Thetahealing, feltragem, Pathwork, dança circular e mais um milhão de coisas. Mexem com tantas energias, sentimentos e conhecimentos que se torna impossível assimilar o “tudo” que entra!
E o que será que realmente estamos captando desse “tudo”? Será que estão sendo dados os espaços necessários para que esses aprendizados se estabeleçam? Será que abrimos espaço para que os encontros ecoem com profundidade na nossa alma?
Isso me lembra uma dança circular da África do Sul que me marcou muito, aprendi com a Judy King, uma focalizadora inglesa. Chama-se Khutso. É uma dança de paz onde há um momento, após termos ido para o centro pedindo pela paz, em que caminhamos para trás e paramos, porque é preciso “dar espaço para que a Paz aconteça”.
Termino esse texto trazendo 3 dicas de autocuidado:
1ª — Você não precisa fazer tudo, mas tudo que fizer faça por escolha, com qualidade e inteireza, aproveitando cada instante e reservando um tempo pós-evento para dar espaço para “a paz acontecer”.
2ª — Diga “não” mais vezes, para as pessoas que te convidam para os eventos, para trabalhos que invadem seu espaço além do necessário e para coisas que nem sempre você quer fazer. Pois, cada vez que você diz um “não” para alguém, provavelmente estará dizendo “sim” para você mesma.
3ª — e por fim traga para consciência que você tem autonomia sobre suas escolhas. Mude sua fala: ao invés de dizer que “não deu tempo” ou “não tenho tempo”, diga: “não priorizei” ou “escolho não priorizar”.
Na primeira fala você é refém das circunstâncias, na segunda você é autor e protagonista de suas escolhas.
Autocuidado tem a ver com isso: ouvir mais nossas necessidades do que nossos desejos ou as demandas do mundo externo. Ouvir nosso corpo, nossa emoção real e respeitar o nosso tempo e o tempo das coisas, dando espaço para que os ciclos da vida aconteçam.